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23/12/2010 10h20 - Atualizado em 29/07/2011 16h55

O mundo por trás dos galpões

Fábrica produz 165 mil peças diariamente e emprega 17.300 pessoas no Rio Grande do Norte.

Por: Felipe Gibson

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A calmaria do lado de fora pode até enganar visitantes de primeira viagem, mas bastam alguns passos em direção aos galpões para a sensação desaparecer, e o ruído das máquinas começa a dar uma pequena noção do que está por trás daquele aparente silêncio. Construído em uma área de 400 mil metros quadrados, ali pulsa o "mundo Guararapes".

Movida pelo trabalho de 17.300 funcionários, a fábrica é a maior do grupo, que engloba ainda a rede varejista Riachuelo, o shopping Midway Mall, a Midway Financeira e a Transportadora Casa Verde. A produção diária de 165 mil peças de roupa abastece atualmente 116 lojas de Norte a Sul do país, número que deve chegar a 130 até dezembro deste ano.

Localizada no Distrito Industrial de Natal, a indústria tinha milhares de clientes, o que mudou a partir de 2008, quando o grupo Guararapes optou por um modelo integrado de trabalho. Hoje a fábrica, responsável pela produção de malha e confecção, fornece material exclusivamente para a Riachuelo, assim como a outra unidade fabril do grupo, em Fortaleza, que fica com os setores de jeans e tecidos planos.

A fábrica é uma das chaves na estratégia de integração da indústria com o varejo, no entanto sua importância não caminha somente na direção do grupo. Além de empregar milhares de pessoas em todos os municípios da Grande Natal, o pólo natalense funciona como uma âncora para o desenvolvimento da indústria têxtil e de vestuário no RN.

No âmbito profissional, a unidade se apresenta como uma verdadeira escola no setor. Com a visão de formar o funcionário dentro da empresa, a Guararapes acumula exemplos de pessoas que nasceram e cresceram profissionalmente na fábrica. São profissionais de diversas áreas, que em conjunto e sob a gestão integrada do grupo, movem o mundo dentro dos galpões e por trás da paisagem de aparente calmaria de quem vê tudo de fora.

Desenvolvimento estadual

Se já é colocada como a maior fábrica do Brasil em número de empregos, dá para imaginar a dimensão que a unidade natalense da Guararapes toma quando se fala em nível estadual. Pode-se colocar a fábrica como a maior responsável pela liderança do setor têxtil e de vestuário entre as áreas englobadas nas indústrias de transformação.

"A Guararapes hoje para o estado é como se fosse uma empresa âncora que serve como referência para as demais também se instalarem aqui", mensura o coordenador de Desenvolvimento Industrial da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Klênio Alves Ribeiro.

Na avaliação de Ribeiro, os patamares de crescimento, competitividade e estabilidade, aliado ao desenvolvimento de mão de obra proporcionado pela Guararapes, são aspectos cruciais para criar um ambiente favorável à instalação de novas empresas do setor têxtil e vestuário no RN. "Ela cria condições para a indústria se desenvolver", reforça o coordenador de Desenvolvimento Industrial da Sedec.

No outro fluxo, a acomodação da fábrica no Distrito Industrial de Natal teve uma série de incentivos do governo, dentro os quais o carro chefe se chama Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial (Proadi). Para Klênio Alves Ribeiro, esse é o grande diferencial competitivo do RN em relação aos estados nordestinos.

165 mil peças são produzidas diariamente na fábrica.Criado em 1984, o programa estadual sofreu adaptações com o passar dos anos e hoje financia até 75% no valor do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) para indústrias localizadas em áreas indústrias e no interior do estado, incentivo que cai para 60% se a empresa estiver instalada na região metropolitana de Natal.

Construída no Distrito Industrial de Natal, a Guararapes paga 25% do ICMS devido, e para liquidar a conta desembolsa mais uma taxa de 1% sobre o valor financiado pelo governo. No ranking, o setor têxtil e de vestuário representa uma fatia de 62% dos R$ 155 milhões disponibilizados pelo Proadi. No segundo posto estão as indústrias de alimentos e bebidas, com 20%, com os 18% restante ficando para empresas de embalagens, higiene, limpeza, entre outras. Na arrecadação do ICMS, o setor de artigo do vestuário e acessório somou pouco mais R$ 55 milhões até setembro de 2010. No apurado geral de 2009 o valor foi de R$ 77,5 milhões, segundo dados fornecidos pela Secretaria Estadual de Tributação (SET).

O coordenador de Desenvolvimento Industrial da Sedec cita ainda incentivos importantes para a instalação e expansão da Guararapes como o apoio na parte de infraestrutura, com a disponibilização de parte da área onde a fábrica foi construída, além de benefícios previstos na legislação do ICMS. Neste último caso o diferimento do imposto incidente na aquisição de máquinas e equipamentos de outros estados do país e exterior.

Escola profissionalizante


A estratégia de formar profissionais na própria Guararapes, no entanto, não foi adotada por acaso. A gerente de Recursos Humanos do pólo natalense, Susanna Rocha Lima, explica que a empresa não encontrou no mercado potiguar uma mão de obra qualificada nos moldes de trabalho da fábrica, o que reforçou a necessidade da formação e capacitação do funcionário dentro da indústria. "Nossa maior demanda é no operacional", ressalta.

De acordo com a gerente de Recursos Humanos, a Guararapes busca pessoas com potencial a desenvolver, e a partir daí prepara esses talentos na empresa. "É uma visão diferenciada. O grupo prefere uma pessoa que ele forme que buscar um profissional experiente no mercado", reforça Susanna Rocha.

Para encontrar e formar esse corpo de profissionais, diferentes ferramentas são utilizadas. Entre elas, está o Programa Jovem Aprendiz, que oferece oportunidades para jovens entre 14 e 21 anos atuarem na empresa por um ano. "Após o projeto 80% deles são absorvidos dentro da produção", explica. A Guararapes trabalha hoje com 305 jovens aprendizes.

Estagiários aprovados no Programa de Estágio 2009.Além da preocupação com a parte operacional da fábrica, a Guararapes não descuida de outros setores. Em 2011, 17 jovens selecionados no Programa de Estágio assumirão cargos administrativos na fábrica. O projeto foi desenvolvido no ano passado por meio de parcerias com instituições de ensino do estado, com a proposta de formar profissionais para desempenhar funções de liderança.

Cerca de 500 alunos que cursam o último ano do curso de Administração participaram da seleção. Segundo Susanna Rocha, a intenção era selecionar 25, no entanto, somente 17 foram aprovados. "A ideia é ter administradores dentro da indústria. É um mercado que as pessoas não conseguiam visualizar", avalia a gerente de Recursos Humanos.

No ano de experiência, os alunos são supervisionados por tutores e passam por uma capacitação que alia as partes técnica e comportamental. Susanna Rocha explica que o objetivo é formar um profissional que agregue os dois valores. "Como liderar algo que você não sabe fazer? Eu não preciso estar costurando, mas na hora que você está costurando, posso identificar algo errado", conclui a gerente de Recursos Humanos.

Crescimento profissional

O que você procura em uma empresa? A pergunta comumente presente em entrevistas de emprego, pesquisas e até manuais costuma encontrar entre suas primeiras respostas a chamada oportunidade de crescimento profissional. No caso da Guararapes, o fator em questão é peça fundamental na já comentada estratégia de formação de funcionários dentro da empresa.

"Existe o apoio da empresa, mas depende do empenho do funcionário. Tem que existir os dois", explica a analista sênior do Departamento Pessoal da Guararapes, Wedna Suely de Lima, 34 anos. Ela é funcionária da empresa há 15 anos, quando começou a trabalhar como telefonista, e um dos exemplos de pessoas que ascenderam profissionalmente dentro da fábrica.

Moradora da zona Oeste de Natal, Wedna conta que as oportunidades eram poucas, até que um conhecido conseguiu uma vaga de telefonista na Guararapes. Como não tinha experiência, ela ficou no banco de espera até a chance surgir. A partir daí, a cada nova oportunidade, Wedna subia um degrau a mais. A fórmula: "sempre estou estudando e me atualizando com as informações que o mercado exige", explica a analista sênior.

Maria do Socorro Pereira França trabalha há 37 anos na Guararapes.No caso de Gustavo Fernandes de Andrade, 28 anos, a evolução foi ainda mais rápida. Em três anos e meio, o engenheiro têxtil passou de estagiário a supervisor de corte da fábrica. Entre uma função e outra, Gustavo foi trainee e encarregado de produção antes de chegar à supervisão. Ele tem acompanhado e orientado o trabalho dos jovens aprovados no Programa de Estágio e ressalta a preocupação cada vez maior da empresa em formar seus profissionais.

"Quando eu entrei não era como hoje, você chegava e lhe diziam ‘você vai trabalhar aqui'. Agora fazemos um acompanhamento de perto. Eles têm o embasamento teórico e ensinamos a parte prática, as duas coisas se complementam", conta o supervisor de corte.

Formação, crescimento profissional, mas também longevidade. Um exemplo que se aplica ao último caso é o de Maria do Socorro Pereira França, 63 anos, 37 deles vividos dentro das fábricas da Guararapes. Funcionária da indústria desde que a unidade natalense funcionava na avenida Bernardo Vieira, Maria do Socorro passou por diversas funções.

Após 24 anos e meio a antiga fábrica fechou e ela acabou demitida. Maria do Socorro explica que ficou desempregada desde então, chegou a ter problemas de depressão, mas ao saber da reabertura da fábrica não perdeu tempo. "Sabendo que ela tinha reaberto vim, recebi uma proposta e estou aqui há 13 anos".

Com a experiência de quase quatro décadas trabalhando para a empresa, uma das mais antigas funcionárias da Guararapes não economiza nos elogios. "Na Bernardo Vieira tínhamos só a refeição, mas aqui reabriu com toda força cada vez melhor. O transporte nos pega perto de casa, deixa dentro da empresa, os salários são pagos em dia, além de termos orientadores e gerentes que trabalham junto com a gente", conclui Maria do Socorro.

Empregabilidade no setor

165 mil peças são produzidas diariamente na fábrica.Com um quadro de 17.300 funcionários, a fábrica tem participação efetiva nos empregos formais registrados no estado. De acordo com a Relação de Informações Sociais (RAIS), calculado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, o RN fechou 2008 com 515.227 empregos. Deste número 67.449 foram gerados pela indústria de formação, categoria na qual a Guararapes está inclusa.

Dos empregos gerados por este tipo de indústria, 40.245 são de empresas cadastradas no Proadi. "A cada 100 empregos da transformação, cerca de 60 são gerados pelas indústrias do Proadi", calcula o coordenador de Desenvolvimento Industrial da Sedec, Klênio Alves Ribeiro. Se a Guararapes tinha cerca de 15.000 funcionários em 2008, a unidade empregou na época quase 40% dos trabalhadores da indústria de transformação.

No Sindicato dos Oficiais Alfaiates, Costureiras e Trabalhadores nas Indústrias de Confecções de Roupas (Sindconfecções), dos 1.500 filiados, 700 trabalham na Guararapes, quase 50% dos associados. Segundo a diretora presidente Maria dos Navegantes dos Santos, o número já foi maior, chegou a 1.000, mas foi reduzido após uma série de demissões da fábrica.

Para Maria dos Navegantes, a queda no número de associados que trabalham na Guararapes, mesmo com o crescimento do pólo industrial, se explica na falta de conhecimento dos mais jovens quanto ao trabalho do Sindiconfecções e pelo medo que os trabalhadores têm de se sindicalizar.

Logística e lucratividade

Unidade produz malha e confecciona roupas masculinas e femininas.A capacidade de produção da fábrica a torna chave na estratégia de integração da indústria com o varejo. Entre 2004 e 2009, a participação dos produtos Guararapes nas vendas da Riachuelo passou de 19% para 52%, processo no qual a unidade natalense é decisiva.

Todo o material é enviado através da Transportadora Casa Verde aos centros de distribuição do grupo, em Guarulhos (São Paulo), que recebe a maior parte das peças; na própria fábrica de Natal; e para um núcleo menor em Manaus (Amazonas). Depois de entregue, a produção é repassada aos pontos de venda espalhados pelas cinco regiões brasileiras, 48 no Sudeste; 32 no Nordeste; 17 no Centro Oeste; 12 no Sul; e sete no Norte.

No primeiro ano com o modelo integrado de trabalho, o sucesso da mudança se traduz nos números. O lucro da Guararapes foi de R$ 214,2 milhões, um crescimento de 54,6% em relação a 2008. Nos seis primeiros meses de 2010 o ritmo continuou com a receita líquida saltando de R$ 61 milhões para R$ 110,5 milhões em relação ao mesmo período do ano passado, uma variação de 81,1%.

* Matéria vencedora do Prêmio Fiern de Jonalismo, na categoria especial estudante, veiculada no dia 15/11/2010.


11 Comentários
Roseanne Rocha 12/01/2011 19h41
Parabéns para a Guararapes e para todos nós que fazemos parte desse sucesso.
Adriana Aquino 22/11/2010 17h08
É sem dúvida uma enorme satisfação em fazer parte de uma empresa sólida e tão bem posicionada como o grupo guararapes, aliás essa essa é uma oportunidade ímpar
Gutemberg Tavares 20/11/2010 23h41
Pois é Raquel, só espero que vc não tenha confudido seu estágio no RH com o Programa de Estágio 2010, com certeza são bem distintos.

@gutembergtavars
Enido Ramos 20/11/2010 22h14
O Grupo Guararapés é fenomenal, uma grande empresa formada por pessoas maravilhoas, talentosas e fraternas.... Foi um prazer participar desta grandiosa história
raquel lira 19/11/2010 12h28
fico feliz pela empresa pois trabalhei 3 anos e aprendi mto,q pena q a empresa nao me deu mas oportunidade de estagio no rh, por isso sair de lá,queria crescer!
Klênio 17/11/2010 23h54
Parabéns Felipe pela matéria a Guararapes é o orgulho do RN.
IACYARA IRYS 17/11/2010 21h59
A GUARARAPES É UMA VERDADEIRA UNIVERSIDADE. EU SINTO UM VERDADEIRO ORGULHO POR FAZER PARTE DESTE TIME.
Silvana Melo 17/11/2010 16h37
Também tenho orgulho de fazer parte do time de estagiários. Estágio diferenciado, concerteza quem faz parte ganha conhecimento em várias áreas. Muito bom.
Suilan Pinheiro 17/11/2010 16h21
É muito importante essa oportunidade que a Guararapes ofereceu para os profissionais de administração, tem sido uma segunda faculdade, fico feliz em fazer parte
Gutemberg Tavares 16/11/2010 15h16
Realmente, a Guararapes é um exemplo de sucesso como também um celeiro de oportunidades. Tenho bastante orgulho em fazer parte de time. Vamos em frente!
Rogerio Mateus 16/11/2010 09h41
A matéria está muito bem postada a guararapes, tambem está antenada com o meio ambiente.

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