Seturn - 2609/24 - Topo

Tudo sobre economia, finanças, negócios e investimentos

23/02/2015 15h05 - Atualizado em 23/02/2015 15h11

Captura do peixe-voador ganha novo impulso no litoral potiguar

A captura da espécie movimenta cerca de R$ 14 milhões por ano em Caiçara do Norte e região

Apesar de o município de Caiçara do Norte - a 149 quilômetros de Natal - ser o maior produtor nacional de peixe-voador, a captura da espécie Hirundichthys affinis - também conhecida como voador de quatro asas - está em pleno declínio na região. Enquanto no início dos anos 70 eram pescadas 1,5 mil toneladas, hoje, a produção beira as 800 toneladas, o que representa apenas 10% da produção de pescado da bacia potiguar. Por não ser um peixe nobre, o baixo valor comercial do voador inviabiliza a pesca. Mil unidades são vendidas até por R$ 50, o que não compensa o comércio frente a outras espécies consideradas nobres, como dourado e atum. Contudo, essa atividade chega movimentar cerca de R$ 14 milhões por ano.

O comerciante Antônio Neto sobrevive do comércio de pescados e lembra com saudosismo a época em que a pesca do peixe-voador era determinante para a economia do município. O cenário era bem diferente do atual. Os ranchos - locais onde comerciantes armazenam, no gelo para venda, peixes comprados de pescadores - eram abarrotados de esteiras com peixe-voador desidratado. "Nesse tempo, apenas um vendedor comprava de pescadores em torno de 30 mil peixes por semana. Em dez anos, tudo mudou. Hoje, o máximo que se compra é 10 mil unidades. Até os pescadores não querem mais ocupar as embarcações com essa espécie porque não compensa", diz Antônio Neto ao tentar explicar o motivo da rejeição ao peixe.

A pesca do dourado impera na região. Mesmo representando apenas 6% da produção, essa espécie tem alto valor comercial. Se uma unidade de peixe-voador pode custar, no máximo, dez centavos na entressafra, um quilo de dourado vale R$ 13 - a safra ocorre entre os meses de abril e meados de julho. E essa é apenas a ponta do iceberg que explica rejeição da espécie. Parte da desvalorização está relacionada à redução da demanda pelo consumo. Tradicionalmente, o peixe-voador era vendido desidratado e salgado em feiras livres de diversas cidades nordestinas. Mas, o pescado apresenta alto teor de espinhas, o que pode explicar a preferência por outras espécies.

"Todo mundo sabe que o peixe-voador é praticamente ignorado pelos pescadores pelo baixo valor comercial, diferente da ova, que é muito apreciada e valorizada pelo mercado", revela Godofredo Nunes, vice-presidente da colônia de pescadores da cidade, que reúne 1,2 mil pescadores associados. O quilo das ovas não fecundadas é vendido por R$ 5,00.

A economia de Caiçara do Norte, assim como de São Bento do Norte, Jandaíra e Parazinho, está muito estrelada à atividade pesqueira, que vira uma das principais cadeias produtivas geradoras de emprego e renda. A pesca representa 50% das receitas de Caiçara do Norte, onde um terço da população de 60 mil habitantes está inserido nessa cadeia produtiva.

Projeto pretende oxigenar pesca

Um projeto, que está sendo desenvolvido pelo Sebrae no Rio Grande do Norte e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em parceria com prefeituras da região, pretende mudar estimular o resgate da pesca do peixe-voador e da ova com sustentabilidade. Denominado Projeto Voador, a ideia é melhorar o aproveitamento do peixe e outras espécies capturadas em alto mar. O objetivo é compreender as demandas de consumo e, atacar a organização da produção, verificando desde a viabilidade de produtos processados até a implantação de uma unidade de beneficiamento.

Todo o projeto está sendo estruturado com os pescadores, que participam de seminários promovidos pelos idealizadores. O último foi realizado em dezembro, quando foi assinado o convênio entre Sebrae e a UFRN para liberação de recursos, e estabeleceu a implantação de um comitê gestor, formado por todos os elos da cadeia produtiva, para definir os rumos da iniciativa. O projeto envolve a identificação da produção, a definição de potenciais mercados, elaboração de produtos derivados e sua viabilidade. "O projeto é importante para e principalmente para quem sobrevive dessa atividade", diz o diretor técnico do Sebrae-RN, João Hélio Cavalcanti.

O cronograma de ações prevê a realização de um levantamento em Caiçara do Norte sobre: o número de pescadores, embarcações, artes de pesca, espécies capturadas, quantidades e sazonalidade, estrutura de manipulação, produtos, forma de comercialização, preços e destino, grau de conhecimento técnico e necessidade de capacitação.

Uma das frentes do projeto é conscientização da sustentabilidade da captura, já que muitos pescadores extraem predatoriamente a ova do peixe-voador, o que pode causa um colapso nos estques da espécie. O voador de quatro asas entra em período reprodutivo com aproximadamente 27 centímetros (aos seis meses) e tem um ciclo de vida de aproximadamente um ano. Caso não sejam delimitados os tamanhos para captura e a quantidade de ova a ser extraída, a espécie pode não subsistir em curto prazo. Daí a importância do monitoramento dos estoques.

Na visão do vice-presidente da colônia de pescadores, o beneficiamento do peixe trará novas perspectivas. "O processamento agrega valor ao peixe-voador e abre novas frentes de trabalho", argumenta Godofredo Nunes.

A concepção do projeto animou o Izailton Luiz de Freitas, que desde pequeno atuam no comércio de peixes em Caiçara do Norte. No racho, as vendas do peixe-voador são mínimas em comparação às de serra , por exemplo. Com as ações, o comerciante estima que as vendas subiriam pelo menos 50%. "Esse projeto vai valorizar o pescado e também o pescador. Será um resgate da pesca de uma espécie que é cara da nossa cidade".

Derivados vão de hambúrguer a nugetts

Mesmo em fase inicial, o projeto já tem alguns resultados. Um dos principais é o envolvimento de trabalhos acadêmicos para comprovar a viabilidade de da carne e ova, assim como o desenvolvimento de receitas e novos produtos derivados. Estão envolvidos nessas pesquisas graduandos e pós-graduandos dos departamentos de Nutrição, Engenharia de Produção e de Oceanografia e Limnologia da UFRN. Todas as ações são coordenadas pelo professor Rodrigo Carvalho.

Apesar de ser considerado um peixe com muitas espinhas, os estudos comprovaram que o rendimento do peixe-voador supera as expectativas e tem um rendimento de 55% de carne - percentual equivalente a espécies da aqüicultura, como a tilápia - e baixo teor de gordura (menor que 2,5%).A separação mecânica da carne pode resultar em uma massa de proteína mecanicamente separada ou ainda, com lavagem e refino, em surumi (matéria prima para o kani kani).

Os estudos e testes dos universitários potiguares concluíram que com essa carne é possível fazer hambúrgueres de peixe-voador, que teriam um custo de aproximadamente R$ 10 o quilo e poderiam ser vendidos com uma margem de lucro de lucro de 25%, sendo mais barato que os tradicionais de frango, bovino, suíno e de peru, além de ter uma lucratividade mais alta.

Também foi testado o uso na fabricação de nugetts, que teria uma aceitação igual aos dos tradicionais mas com menos poder de absorção de óleo. Também foram feitas experimentalmente as mortadelas e linguiças do peixe. Todos os produtos desenvolvidos foram aprovados nas análises sensoriais, após degustação feita definir a percepção dos consumidores acerca desses novos produtos. A proposta é também inserir esses produtos na merenda escolar da rede pública de cidades da região.

 

Fonte: Agência Sebrae de Notícias RN


0 Comentário

Avenida Natal, 6600 - Rodovia Br 101 - Taborda | São José de Mipibú/RN CEP | 59.162-000 | Caixa Postal: 50
2010 ® Portal Mercado Aberto. Todos os direitos reservados.
ponto criativo