Dengue pede atenção de todos já no início do ano

No RN foram registrados 432 casos prováveis de dengue apenas nas duas primeiras semanas de janeiro, segundo Sesap

De acordo com o Painel e Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 6,5 milhões de casos prováveis de dengue até 7 de outubro de 2024. No período, 5.536 pessoas morreram em decorrência da doença, e outros 1.591 óbitos estão em investigação. Como comparação, no mesmo período de 2023, foram registrados 1,3 milhão de casos prováveis da doença, com 1.179 mortes confirmadas ao longo do ano. O aumento de casos em 2024 é 400% maior em relação ao ano anterior.

Apesar desses números alarmantes, as infecções começaram a cair a partir de abril. A redução se manteve até o final de agosto, mas especialistas alertam para uma possível nova alta em dezembro e janeiro, com expectativa de pico entre março e abril de 2025. No Rio Grande do Norte foram registrados 432 casos prováveis de dengue apenas nas duas primeiras semanas de janeiro, segundo dados divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap).

O infectologista Gabriel Hypolito, da Hapvida NotreDame Intermédica, ressalta que as condições climáticas deste período, como calor, umidade e chuvas, facilitam a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, o que exige atenção redobrada durante o verão.
A circulação dos subtipos 3 e 4 do vírus preocupa os especialistas, já que grande parte da população ainda não foi exposta a esses tipos virais. A previsão é de que, em 2025, esses eles possam retornar, encontrando muitas pessoas suscetíveis à infecção.

Confira abaixo uma entrevista como o infectologista Gabriel Hypolito sobre a doença:

*O que são arboviroses?*
Arboviroses são doenças causadas por vírus transmitidos por vetores como mosquitos e carrapatos. São comuns em regiões tropicais e subtropicais, onde as condições climáticas favorecem a reprodução desses vetores. As principais arboviroses viroses conhecidas aqui, no Brasil, são a dengue, a chicungunha, a zika e a febre amarela.

*Quais são os sintomas da dengue?*
Os sintomas da dengue clássica atingem cerca de 95% dos casos. Essa versão normalmente gera febre alta, em torno de 38,5 graus Celsius de início súbito, que pode durar de 2 a 7 dias. Pode estar associada a dor de cabeça intensa, especialmente atrás da região dos olhos, dores musculares e articulares, manchas vermelhas difusas pela pele que podem levar a coceira, fadiga, cansaço extremo, náuseas, vômito, perda de apetite e dor abdominal de leve a moderada.

Também existem os sintomas da dengue grave, que geralmente representam 5% dos casos. Nesse caso, a doença gera dor abdominal intensa, vômitos e sangramentos. Podem ser no nariz, gengiva, urina ou fezes, além do acúmulo de líquido na região dos braços e pernas, abdômen e até dificuldade em respirar. Pode também ocorrer irritabilidade, sonolência excessiva, queda brusca da pressão arterial como hipotensão, tonturas ou desmaios. Esses sintomas indicam que a doença pode evoluir de forma grave. Qualquer que seja o caso, a pessoa deve buscar atendimento médico o quanto antes.

*Quem está infectado pela dengue deve evitar algum tipo de medicamento?*
Sim, pessoas infectadas com a dengue devem evitar certos medicamentos, principalmente aqueles que podem aumentar o risco de sangramento. Isso ocorre porque, na dengue, a causa básica são alterações relacionadas à diminuição do número de plaquetas. E quais seriam esses medicamentos? Em geral, anti-inflamatórios, aspirina, ibuprofeno, diclofenaco, entre outros. É imprescindível que a pessoa não se automedique e procure orientação médica.

*Quem já pegou dengue alguma vez pode contrair a doença novamente?*
Sim, a pessoa que já contraiu o vírus da dengue uma vez, pode ser infectada novamente. Isso ocorre porque existem quatro tipos diferentes do vírus. A infecção por um tipo específico só confere imunidade para aquela variação, não protegendo contra os outros três. Por isso o risco em caso de infecção persiste.

Quando uma pessoa é infectada pela segunda vez, o risco de desenvolver formas graves da doença pode ser maior. Isso ocorre devido a um fenômeno chamado de amplificação dependente de anticorpos, em que os anticorpos do primeiro tipo podem facilitar a entrada do novos vírus nas células, agravando a resposta inflamatória e, consequentemente, piorando os sintomas.

*Quais são as possíveis complicações que a dengue pode causar?*
A dengue, na sua forma grave, pode trazer diversas complicações. As mais comuns são as hemorragias, sangramentos espontâneos em diferentes partes do corpo. Já na região do trato gastrointestinal, devido ao vômito e fezes com sangue, esses sangramentos geralmente podem levar a uma anemia grave e, como consequência posterior, queda abrupta da pressão arterial. Isso pode levar à morte. Além disso, a doença também pode causar insuficiência renal, alterações no sistema nervoso central, inchaços nos braços, pernas e aumento do volume abdominal. Nas gestantes, pode ser ainda mais complicado, podendo levar ao aborto, ao parto prematuro e à restrição do crescimento fetal. A dengue é uma doença séria.

*Quais medidas de prevenção e de controle ao vetor que são essenciais para reduzir a transmissão do vírus?*
As medidas de prevenção devem ser focadas no controle do vetor da dengue, o Aedes aegypti. Como o mosquito precisa de água parada para se reproduzir, o foco principal é a eliminação dos criadores para evitar a sua proliferação. É imprescindível limpar regularmente os recipientes que acumulam água, como baldes, pratos de plantas, calhas e pneus. Descartar corretamente objetos que possam acumular água, como garrafas, latas e plásticos. Manter as caixas d'água, cisternas e reservatórios bem tampados. O uso de barreiras físicas também é um grande aliado: uma boa ideia é usar mosquiteiros, principalmente em áreas de alta infestação, para proteger crianças, idosos e gestantes. Além disso, vestir roupas de manga longa, calças compridas em locais com alta circulação de mosquito, uso de repelentes aplicar repelentes na pele.

*Algum recado final?*
Sim! Se mesmo tomando todas as medidas preventivas, a pessoa apresentar os sintomas, mesmo os da versão mais leve da doença, o melhor caminho é buscar atendimento médico, por meio de uma teleconsulta ou, em casos mais graves, presencial.