Alecrim: novas propostas e antigos desafios na gestão alviverde |
Por: Felipe Gibson
Não é preciso voltar muito no tempo. Há bem pouco atrás chegava a ser normal ouvir por aí: “E o Alecrim ainda existe?”. Sem apoio financeiro e dependendo da ajuda vinda do bolso de torcedores, o Alviverde somava maus resultados em campo e trilhava o rumo do esquecimento. As barreiras não eram poucas, mas a partir de uma mudança de pensamento foi iniciado o resgate de um dos times mais tradicionais do Rio Grande do Norte, que tenta se reerguer diante das dificuldades de gerir o futebol no estado.
De forma inesperada - após a desistência de seis equipes potiguares - o Alecrim voltou a disputar uma competição nacional em 2009, a Série D. A partir da mobilização de seus dirigentes e apoio financeiro de empresários, prefeitura e governo, o Alviverde alcançou o acesso e chegou à Série C, de onde foi recentemente rebaixado. No entanto, apesar da queda, a volta do time ao cenário nacional fez os dirigentes enxergarem uma nova forma de gestão, baseada na profissionalização, hoje indispensável para a sobrevivência no mercado do futebol.
“Até dois anos atrás o panorama impedia toda e qualquer forma de investimento por parte da iniciativa privada. O clube não transmitia boa imagem para empresa alguma, e isso somado a cultura de não investimento no esporte. Torcedores faziam permuta, prestavam serviço, colaboravam com pequenos valores para colocar marca nas camisas. O cenário era péssimo”, lembra o vice-presidente do clube, Marcelo Henrique.
Formado em administração e coordenador do curso na Fatern, Marcelo Henrique conta o que tem sido feito para reerguer o Alecrim. Em entrevista ao Portal Mercado Aberto na primeira reportagem da série Negócio da Bola: A Gestão do Futebol no RN, o vice-presidente deixa claro que a missão de gerir um clube, sobretudo em Natal, é bem mais complicada do que se pensa. “Não basta só paixão. Tem que ter conhecimento, planejamento e organização. Gerenciar é algo muito complexo”.

A oportunidade
Antes entregue à realidade de disputar o Campeonato Potiguar e passar o segundo semestre parado, o Alecrim ganhou uma chance inesperada no ano passado. Com a desistência de Assu, Santa Cruz, Potyguar de Currais Novos, Baraúnas e Potiguar de Mossoró – todos alegando dificuldades financeiras - em disputar a Série D, o Alviverde, 8º colocado do Estadual, topou o desafio.
Sem recursos, o clube mobilizou empresários locais, prefeitura e governo a investir no time. Assim o Alviverde ficou entre os quatro melhores e chegou à Série C. No embalo do acesso, a diretoria alecrinense enxergou a chance de resgatar a imagem do clube. Por meio de investimentos em assessoria de imprensa e ações de marketing, novos caminhos foram criados para gerar receita.
O vice-presidente do Alviverde, Marcelo Henrique, conta que o clube investiu em um trabalho de clipagem de tudo que foi divulgado nos meios de comunicação sobre a marca Alecrim. Com o material em mãos, começou a busca pelos patrocínios, que começaram a aparecer. Empresas como Unimed, Forte Cola, Cidade Jardim, Lavanderias Primavera e Bom Dia Supermercado entraram na jogada. Somado ao arrecadado da iniciativa privada, prefeitura e governo apareceram com convênios.
Nada é simples
Apesar dos novos patrocínios e parcerias, estabilidade financeira não é a melhor expressão para ilustrar o quadro alecrinense. Segundo o vice-presidente Marcelo Henrique, os patrocínios da iniciativa privada rendem aproximadamente R$ 25 mil de receita fixa por mês ao clube. Por outro lado, os gastos passam dos R$ 100 mil mensalmente entre custos fixos (75%) e variáveis (25%). Pode parecer loucura, mas Marcelo Henrique garante ser um risco calculado.
O vice-presidente explica que com os valores pagos por prefeitura e governo é possível equilibrar as contas. O problema é que a verba de tais instituições costuma passar por trâmites burocráticos que impedem a facilidade. “É um risco muito alto, mas é relativamente calculado. Tínhamos algum encalço, já contávamos com essa receita”, explica Marcelo Henrique.
Enquanto o dinheiro do setor público não entra na conta, o clube se vira e literalmente ‘passa o boné’ entre os alecrinenses para cumprir as obrigações. “Temos que encontrar o ponto de equilíbrio na solidariedade dos torcedores. A sustentabilidade não vem profissionalmente e entra a segunda força, o apoio”, avalia o vice presidente, que admite tirar dinheiro do próprio bolso em alguns casos para manter o dia a dia do clube funcionando.
Quanto o aproveitamento do dinheiro da bilheteria, a verba também é pouca. No Campeonato Potiguar, Marcelo Henrique estima em R$ 4 mil o prejuízo por partida, isso sem o time contar com o apoio mais forte da iniciativa privada, que só veio na Série C. O benefício da renda dos jogos só vem em alguns casos, como no duelo entre ABC e Alecrim, que rendeu R$ 150 mil. Descontados os custos para a realização do jogo, o lucro líquido ficou em R$ 90 mil, verba utilizada para pagar a folha salarial atrasada de julho e a de agosto.
Para Marcelo Henrique, uma das soluções para contornar tais dificuldades está em um investimento mais pesado da iniciativa privada. Segundo o vice-presidente é preciso que a mentalidade dos investidores mude. “Se eles tivessem noção do benefício que o esporte traz para a imagem empresa, eles modificariam a forma de enxergar. Por não ser tão imediatista, ninguém acredita tanto”.

O resgate
Dono de uma história de tradição no futebol potiguar, o Alecrim viveu anos de dificuldade, tempo em que a imagem de clube forte do RN foi se perdendo tanto no campo quanto entre os torcedores. “Estamos num processo muito complexo. Não só resgatar o torcedor, como levantar sua auto estima”, explica o vice-presidente. Marcelo Henrique é objetivo ao nomear o primeiro passo para atingir a meta: “profissionalizar pensamento e pessoal”.
“Clubes como ABC e América têm a faca e o queijo, falta apenas trabalho. Eles já têm o torcedor. É um trabalho ao quadrado o nosso”, avalia o vice-presidente. Segundo ele o trabalho consiste em resgatar quem já é torcedor, conquistar os indecisos, e posteriormente começar a fidelização. “É entender o que o torcedor quer para poder atender e atrair”, afirma.
A nova proposta alecrinense incluiu a modernização do site do clube, a inauguração da sede no bairro do Alecrim, a gravação do hino do time em outros estilos musicais, além da criação de pontos de venda, loja online e exploração da marca em sites de relacionamento. As novidades também se ampliam no projeto sócio torcedor, que oferece vantagens como descontos em dias de jogos, na compra de produtos do time e na rede de empresas parceiras. “Queremos massificar e aos poucos compor a esfera da torcida formal”, reforça Marcelo Henrique.
Apesar dos planos, o vice-presidente mantém os pés no chão, e conta que o processo de resgate é apenas o começo, para posteriormente o clube pensar em gerar uma receita considerável com as ações.
Futuro
Que o fardo é pesado ninguém duvida, porém Marcelo Henrique acredita que a continuidade do trabalho é o segredo para o sucesso chegar. “Como na vida tudo é um ciclo. O grande desafio é tornar o ciclo mais contínuo. Perpetuar, prolongar e continuar o processo de profissionalização”, afirma.
O vice-presidente conta que o objetivo é manter o Alecrim em uma divisão intermediária do futebol nacional, como a Série C, para que o clube se estruture e assim possa almejar passos maiores no futuro. “Sonhar nunca é demais. Os sonhos nos movem a alcançá-los”, diz Marcelo Henrique.












