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13/10/2010 08h37 - Atualizado em 25/03/2011 17h27

ABC: os novos caminhos da gestão alvinegra

Por: Felipe Gibson

Se existe algo no mundo do futebol capaz de abalar um clube, seu nome é rebaixamento. Mais do que significar o fracasso do time dentro de campo, a queda para escalões menores representa uma perda enorme no setor financeiro. São patrocínios perdidos, menores ajudas de custo por parte de federações, perda de cotas de televisão, além do enfraquecimento da imagem da equipe. Por essas e outras, 2009 foi um daqueles anos para o ABC esquecer.

Como se não bastasse a queda para a Série C, 2010 começou com uma dívida de R$ 2,5 milhões. Neste cenário uma nova diretoria assumiu e de cara colocou como prioridades a volta do time à Série B e o pagamento das contas pendentes. Para atingir as metas a mudança começou na filosofia de trabalho, com a adoção de modelo de gestão que tratasse o clube como empresa e o futebol como um negócio capaz de gerar receita.

Mas se na teoria tudo parece simples, na prática a realidade muda, principalmente quando falamos na gestão do futebol no Rio Grande do Norte, onde os clubes sofrem com a falta de patrocínios. Diante de tal realidade, o Alvinegro planeja massificar o projeto sócio torcedor a um patamar que a equipe de futebol seja sustentada exclusivamente pelas mensalidades dos torcedores. Paralelamente, o Alvinegro vem criando novas fontes de receita através da exploração da marca ABC.

Entre novos investimentos, custos com o futebol, e uma dívida a ser sanada, o Alvinegro apostou em um empresário para cuidar da parte financeira do clube. Criador da empresa Telepesquisa, César Augusto Ferreira assumir a vice-presidência de Finanças e Patrimônio ciente das dificuldades, mas confiante no potencial comercial do ABC, como contou em entrevista concedida ao Portal Mercado Aberto em sua sala no Complexo Esportivo Vicente Farache, na terceira reportagem da série Negócio da Bola: A Gestão do Futebol no RN.

O preço a se pagar
Quando uma empresa planeja sair de uma situação difícil, é fundamental calcular bem os riscos antes de correr atrás de empréstimos ou outras fontes de recurso. No ABC, o cálculo foi feito para evitar justamente o endividamento do clube, que já tem um passivo alto para arcar. O vice-presidente de Finanças e Patrimônio, César Augusto Ferreira, explica que é complicado manter o equilíbrio nas contas.

Com R$ 170 mil mensais de patrocínio, o Alvinegro precisa de outras fontes para sustentar a estrutura do futebol, que gira em torno de R$ 500 mil. Segundo Ferreira, os bancos, por exemplo, não estão abertos a empréstimos. “Exige-se uma garantia muito grande para acontecer”, conta o dirigente. Mesmo contando com a verba de campanhas, sócio torcedor, venda de produtos, bilheteria e venda de atletas, quem completa o saldo são os conselheiros.

“É preciso recorrer aos abnegados para arrecadar receita. A verdade é que eles têm doado para que o clube não acumule novas dívidas”, revela o vice-presidente de Finanças. Com a queda para a Série C, Ferreira ressalta que o clube não tem custeamento nem nas viagens, além do rebaixamento ter representado uma perda considerável na visibilidade do time em cenário nacional, o que interfere diretamente na captação de patrocínios.

De outras fontes, o Alvinegro recebeu R$ 250 mil no Campeonato do Nordeste e conta com R$ 130 mil de apoio da prefeitura. Sobre o Campeonato Potiguar, o dirigente conta que normalmente a competição traz déficit, mas neste ano, muito em virtude da conquista do título, foi superavitária para o clube.

Nova gestão
“Não é fácil gerir um clube”. Foi a primeira frase do vice-presidente de Finanças ao ser perguntado sobre a situação do clube no início do ano e a proposta de gestão da nova diretoria. “O risco no futebol é muito grande. Quantos clubes investem muito no plantel e outro com folha menor ganha campeonato. Não é uma ciência exata”, ressalta. De acordo com César Augusto a grande vantagem é ter o que ele chama de “clientes fiéis”.

“O torcedor de um clube não abandona para torcer por outro. Diferente das empresas, que quando não atendem bem logo perdem os clientes”, explica. Com o objetivo de subir para a Série B e sanar as dívidas, a aposta abcdista é profissionalizar a gestão e envolver o torcedor no processo de recuperação do clube.

Um dos passos neste sentido foi a departamentalização da diretoria, hoje dividida em diversos setores com funções específicas. Aliado a isso, o Alvinegro vem apostando suas fichas no marketing para atrair sócios e fidelizar seus clientes. “O departamento de marketing é como o departamento de vendas da empresa, traz oxigênio para a organização”, avalia César Augusto.


O vice-presidente de Finanças conta que a intenção é aproximar o torcedor do clube, de forma que ele ajude na gestão. Segundo ele o retorno tem chegado por meio de campanhas, como a arrecadação de doações das cotas do “projeto Wallysson” e até pela contribuição de credores do Alvinegro.

“Temos feito planejamento para deixar o ABC de forma saudável para que ele seja gerido com profissionalismo e que não seja necessário recorrer aos conselheiros”, reforça César Augusto.

Projeto sócio torcedor
Fechar o ano com o acesso à Série B do Campeonato Brasileiro é indiscutivelmente o grande objetivo alvinegro para 2010, no entanto outras metas já estão bem vivas no pensamento da diretoria. Uma das principais, e talvez a mais ousada, é atingir a marca de 30.000 sócios até 2012, quando se encerra a atual gestão.

“Com esse número, esperamos gerar uma receita de R$ 900 mil só com o que é pago pelos sócios e com esse dinheiro sustentar toda a estrutura do futebol”, explica César Augusto Ferreira. Segundo o vice-presidente de Finanças, o ABC já pensa em atingir 5.000 associados até o dia 24 de outubro, data do jogo decisivo contra o Águia pela Série C. Com esse número seriam gerados R$ 150.000 de acordo com Ferreira. Hoje o Alvinegro tem 3.300 sócios. “O torcedor deverá ser o maior patrocinador do ABC”, reforça.

Para tanto, o clube investiu R$ 1,5 milhão na campanha “O ABC é seu”. O projeto trabalha com quatro modalidades de sócio. O torcedor paga uma adesão de R$ 30 e escolhe em que modalidade quer se encaixar. O Sócio Mais Querido vai pagar R$ 70 mensais e terá acesso livre as cadeiras nos dias de jogos e vaga no estacionamento grátis. O sócio Mais ABC terá uma mensalidade de R$ 30 e contará com acesso livre ao setor de arquibancada. O Sócio Alvinegro pagará R$ 10 e contará com desconto de 50% na compra tanto de ingressos para cadeiras quanto para arquibancadas.

No mesmo dia em que lançou a campanha, a diretoria anunciou um aumento de R$ 20 para R$ 30 no preço da arquibancada, enquanto o preço do ingresso para cadeira, que custava R$ 50, passa a ser R$ 70. No entendimento de Ferreira, é mais um motivo para os torcedores se associarem. Além da receita em si, o vice-presidente de Finanças espera que com o cumprimento da meta o clube também ganhe em visibilidade e consiga novos patrocínios.

Outras fontes
Uma das alternativas que há um bom tempo rende frutos na relação custo/benefício aos clubes é o investimento nas categorias de base. Formar jogadores dentro do clube dá ao time as possibilidades de aproveitar os atletas sem precisar sair ao mercado e gastar, e funciona também como uma fonte de receita, na venda destes jogadores a outras equipes.

No ABC, César Augusto conta que são reservados R$ 50.000 para as categorias de base, porém o dirigente ressalta que o investimento está muito longe do que é feito em clubes de médio e grande porte. E mesmo assim, os resultados aparecem. “Todo ano o ABC vende cerca de um ou dois atletas. Estamos negociando o atacante João Paulo, vendemos 50% do passe de Edson, e alguns times já mostraram interesse em Wellington”, revela.

Sobre o apoio da iniciativa privada, César Augusto avalia que a dificuldade de se conseguir patrocínio não é fruto exclusivamente do desinteresse dos empresários. Segundo o vice-presidente os clubes ainda trabalham muito a emoção na hora de vender o produto, enquanto a classe empresarial é racional.

“É tratar como negócio. Temos que conseguir mensurar, mostrar, quantificar. Na hora que o empresário começar a sentir por pesquisas que o cliente está indo lá pela marca exposta e vir que dá retorno, ele vai comprar”, explica César Augusto.

O vice-presidente de Finanças conta que as dificuldades de arrecadar existem, mas com um trabalho sério os resultados aparecem. “Clube de futebol tem potencial enorme. Se você entra e trata de forma profissional. Se houver competência, empenho e honestidade, não tem segredo”, finaliza.


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