Paiva Junior defende a municipalização como alternativa para pequenos supermercadistas |
A crescente expansão de grandes redes de supermercado pelo Rio Grande do Norte mais do que concentrado o poder no setor, vem começando a sufocar os pequenos e médios supermercadistas. Para sobreviver, os estabelecimentos menores têm buscado algumas alternativas, entre elas a municipalização das redes, que vem sendo a principal meta da nova presidência da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn).
Em entrevista ao Portal Mercado Aberto, o presidente recém empossado, Geraldo Paiva Júnior, fala sobre a expansão do setor supermercadista pelo estado e de que forma os estabelecimentos de pequeno e médio porte podem sobreviver frente ao crescimento das grandes redes. Com uma experiência de 19 anos no setor, Paiva Júnior explica as mudanças no perfil do cliente com o passar do tempo e lembra os fatores diferenciais do serviço prestado pelos pequenos em relação aos líderes do setor.
Mercado Aberto: Quem é Geraldo Paiva, o novo presidente da Assurn?
Paiva Junior: Geraldo Paiva Júnior é um supermercadista que começou no ramo em Natal com um mercadinho na zona Norte em 1991. Dois anos depois me transferi para o bairro de Nova Descoberta, onde estou há 15 anos. Entramos na Rede Mais e agora fazemos parte de uma associação, hoje uma empresa. Enveredei um pouco pela política e fui prefeito no interior, mas não gostei da atividade, tinha até direito a reeleição, não quis, e voltei para minha atividade.
MA: Como é assumir a presidência da Assurn? Que desafios você espera enfrentar?
PJ: Não acredito que sejam grandes desafios. Eu vejo que temos oportunidade de fazer acontecer algumas coisas. Quero fazer uma gestão voltada para os pequenos e médios supermercadistas. Está havendo uma mudança muito grande no setor com uma concentração das grandes redes. Existem duas ou três que estão concentrando, crescendo muito, comprando as pequenas e isso às vezes vem sufocando o pequeno. Quero exatamente ajudar na sobrevivência destes pequenos supermercadistas. Nosso objetivo é levar a associação para o interior do estado, fazer com que os pequenos e locais tenham acesso e vejam os benefícios que a associação pode trazer para eles. Os grandes já têm assessoria jurídica, acesso a informações, novas tecnologias, capacitação, coisas que o pequeno não tem. A Assurn vai ser um canal para levar capacitação, treinamento, palestra, seminários, melhorar a qualidade do supermercado do Rio Grande do Norte, principalmente do pequeno e médio.
MA: Como você enxerga essa expansão das grandes redes para o interior, como, por exemplo, a abertura do Bompreço em Mossoró no ano passado? Qual é o atual momento?
PJ: Nas grandes capitais está havendo uma concentração. No nordeste está começando, mas no Rio de Janeiro, São Paulo, no eixo do Centro Sul do país, já existe uma concentração maior com um grande poder de compra das redes maiores, que compram pequenas para se expandir. Foi feita uma pesquisa recentemente que constatou uma mudança no consumidor de supermercado no Brasil. No final dos anos 70 e 80 havia um crescimento dos hipermercados com a população querendo comprar. A pesquisa diz que o consumidor está deixando os hipermercados e vindo para supermercados mais compactos, tanto que grandes redes, multinacionais, mudaram o foco e passaram a investir mais em lojas menores, de bairro também. A tendência é essa no Nordeste. Isso vai concentrar e fazer com que os estabelecimentos de porte pequeno e médio comecem a buscar o interior. A Rede Mais, por exemplo, já abriu em nova Cruz, Macau, Monte Alegre, São José de Mipibu, Goiainha, vai abrir mais uma em Parnamirim, talvez em Macaíba. Existe uma tendência das lojas buscarem a interiorização devido à concorrência começar a ficar acirrada.
MA: Quais foram os fatores que provocaram essas mudanças no consumidor?
PJ: Atualmente a dona de casa sai para trabalhar também. Houve uma mudança nos últimos anos, já que antigamente só o homem trabalhava e a mulher ficava em casa, então ela tinha tempo de fazer supermercado, fazia compras com mais tempo, podia ir numa loja grande, que demanda tempo para comprar. Hoje não, com todo mundo trabalhando o pessoal quer praticidade, uma compra mais rápida. Antes se compravam grandes volumes para casa, era feita uma compra de mês. Agora praticamente se vai ao mercadinho todos os dias, comprar pão, leite, carne, verdura, não tem mais aquelas compras enormes para passar 30 dias. A compra é semanal, o que aumenta a ida aos supermercados e diminui o tempo nesse supermercado. Não se demora hoje como demorava antigamente.
MA: Cidades próximas a Natal, como é o caso Parnamirim, têm despertado interesse dos supermercados. O que tem atraído as grandes redes para essas áreas?
PJ:Essas cidades fazem parte da Grande Natal e várias pessoas que trabalham na capital passam a morar nelas. Devido ao preço do imóvel aqui ficar mais caro a população começa a ir para bairros mais distantes e está chegando a Parnamirim, onde é possível comprar uma casa melhor com o mesmo valor de uma casa mais fraca aqui. Com essa demanda, houve uma procura maior dos supermercados por essas cidades.
MA: Sobre o objetivo da Assurn de expansão do setor para o interior. Os municípios ainda são carentes de um mercado supermercadista?
PJ: As grandes redes costumam investir em cidades que têm mais de 100 mil habitantes. Abriu uma loja do Bompreço e um Atacadão em Mossoró. Por quê? A cidade tem hoje acho que mais de 300 mil habitantes. Em Parnamirim, para onde está chegando um Bompreço agora, a população está acima de 100 mil. Nas cidades em que a população gira em torno de 35 ou 40 mil habitantes, no caso de Nova Cruz, Santa Cruz, Currais Novos, Caicó, a tendência é que lojas de porte médio comecem a se instalar, porque elas ainda não viraram foco das grandes redes.
MA: sso também seria uma forma de sobrevivência das pequenas lojas levando em conta que o crescimento das grandes restringe o mercado para elas?
PJ:Hoje existe um mecanismo, as centrais de compras. A Rede Mais, para ela chegar ao Carrefour, com esse estilo com a chegada do Extra, do Wall Mart, do Atacadão. O pessoal se uniu para se fortalecer, com isso veio a Rede Show, Supercop, na região Seridó tem uma Rede Seridó, Mossoró tem a Rede Dez. Várias redes foram sendo criadas para se fortalecer, exatamente para sobreviver nesse mercado tão competitivo.
MA: Como funciona a formação dessas cooperativas?
PJ: Existem redes que são grupos fechados, nos quais só participa quem já está, os sócios fundadores. Outras redes ainda estão abertas a receber lojas, desde que elas se enquadrem no padrão de qualidade estabelecido. Uma das características é que onde já tem uma, não pode entrar outra.
MA: Em bairros?
PJ: Isso. Se um bairro deste tem uma loja, como é o caso da Rede Mais, não libera para outro colocar, de forma que só aquele que pode crescer no bairro é o que já está. Você pode abrir lojas com mais de três quilômetros de distância, acho que é a mesma norma usada para outras redes, para não haver um canibalismo entre as próprias lojas.
MA: Hoje grandes redes têm se expandido a partir das compras e fusões com as pequenas. Como está esse processo no estado? Ainda há resistência?
PJ: Eu acho que o pessoal está resistente porque ainda não chegou uma política das grandes redes com esse objetivo de adquirir lojas de porte médio. Acredito que a tendência é também acontecer aqui, não sei quantos anos vai levar, mas eu creio que vai ocorrer em Natal.
MA: Além de se fortalecer nas cooperativas, existe uma forma dos menores se diferenciarem?
PJ: É o que temos de procurar mostrar ao pequeno, que ele tem um diferencial, uma coisa que o grande nunca vai ter. Em lojas de bairro e de porte médio você pode dar um atendimento mais personalizado, você conhece o seu cliente pelo nome, sabe o que ele gosta, tem muito mais agilidade. O cliente chega na sua loja e fala com o dono: ‘o produto tal, estou procurando e não encontro na sua loja’. O ponto é essa agilidade, de no outro dia comprar e colocar, o que não acontece com as grandes redes, porque elas têm suas compras centralizadas, uma administração que vem de cima para baixo, às vezes do centro de São Paulo e até de fora do país. Ele não tem a facilidade que o pequeno tem para dar esse atendimento personalizado, que é o grande diferencial. Como também nos produtos regionais, sazonais, nos quais o pequeno consegue se sobressair. Na hora de comprar arroz, feijão, frutas, carne, ele tem facilidade em adquirir com produtores locais e preços melhores. É o que não acontece com as empresas de manufaturados, as grandes indústrias, como Me Leve, Nestlé, Ambev, segmento no qual as dificuldades são maiores para competir com as grandes redes.
MA: Existe uma tendência cada vez maior nas grandes redes da criação do produto de marca própria. Como os pequenos têm atuado neste tipo de mercado?
PJ: O pequeno pode explorar a marca própria também, principalmente quando ele se junta nas redes, eles podem buscar fazer uma marca própria.. Existem facilidades de fazer a marca própria. O objetivo é fidelizar o cliente e fugir da concorrência. Na hora que você tem um produto com sua marca, já não se pode comparar preço com outros. Quando você tem outro produto, por exemplo, sabão em pó da mesma marca. Você chega no supermercado e compara com o preço do produto em outro supermercado. Na marca própria você não vai poder comparar porque aquele produto, aquela marca, só tem na sua loja. E se o cliente gosta do produto. Onde ele vai encontrar? Só na sua loja. Se você fizer um bom produto, o cliente comprara a primeira vez e gostar, ele vai ter que voltar na sua loja. As redes que estão se formandos já podem buscar. Existe um trabalho em médio prazo de se fazer a marca própria.
MA: Como está esse mercado hoje para os pequenos?
PJ: Está engatinhando, é um projeto que os pequenos estão começando a olhar agora, mas é um segmento que tende a crescer, até mesmo nas lojas de menor porte.












