Devolução de campos de exploração da Petrobras não é bem vista em audiência públicaRepresentantes do setor se posicionam contra emenda que pode passar área da estatal para a iniciativa privada. |
A possibilidade de devolução de 100 milhões de barris de reservas em terra da Petrobras para a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com o intuito de que os mesmos passem para as mãos da iniciativa privada, não tem sido vista com bons olhos. Pelo menos foi essa a impressão que se teve durante a audiência pública realizada na tarde desta segunda-feira (07) na Assembleia Legislativa para debater a emenda do Projeto de Capitalização da Petrobras que trata do assunto.
Apesar de tocarem em pontos diferentes, os participantes da bancada defenderam que não seria um bom negócio passar a exploração dos campos terrestres do Rio Grande do Norte para as empresas privadas. Além disso, a própria Petrobras, representada pelo gerente geral das unidades do Ceará e do RN, Joelson Mendes Falcão, não se mostrou interessada em devolver os 100 milhões de barris para a ANP. A quantia representaria parte do pagamento da estatal referente aos 5 bilhões de barris fornecidos pelo governo federal para a capitalização.
O gerente geral explica que a devolução "talvez não fosse necessária", visto que a Petrobras não demonstra um movimento de saída do estado. De acordo com Joelson Mendes, já existem áreas disponíveis para que as empresas possam explorar sem necessidade da estatal deixar de operar os campos potiguares. Para expor a situação, Joelson Mendes, informou que 53% dos investimentos nas unidades do Ceará e RN já tem sido feito em parcerias com empresas independentes, como uma forma de dividir os riscos e tecnologias empregadas.
Outros 36% da fatia seriam investimentos brutos da Petrobras e os 11% exclusivos do setor privado. Mendes conta ainda que apesar dos números não serem dos melhores nos últimos anos, a estatal espera conseguir um retorno interessante a partir de 2012. "Os investimentos demoram para ter retorno", explica. Caso a demanda seja aprovada, ainda depende da Petrobras optar ou não pela devolução dos campos. Sobre se o setor privado conseguiria cobrir a demanda de 100 milhões de barris caso eles fossem devolvidos, o gerente geral é enfático: "não é o que a história tem dito".
Para o presidente do Sindicato dos Petroleiros do estado (Sindpetro/RN), Márcio Dias, pequenas e médias empresas não têm condições de dar sustentabilidade aos campos. "As intenções são boas, mas é um mercado que exige capital para se tornar sustentável", explica. Márcio Dias avalia que caso a emenda, aprovada na Câmara Federal e atualmente em trâmite no Senado, seja efetivada, a tendência é o esvaziamento das áreas em questão.
Já o presidente Associação dos Engenheiros da Petrobras, Ricardo Pinheiro Ribeiro, mostra preocupação com a forma como a emenda está sendo proposta. "O texto da emenda, por exemplo, se refere a campos maduros e marginais, no entanto, tratam-se de áreas em produção e desenvolvimento, são zonas que estão começando a produzir, é uma situação muito mais abrangente".
Ribeiro explica que pela maneira como está sendo conduzida, a situação pode gerar perdas. Outro ponto abordado pelo presidente da Associação de Engenheiros diz respeito aos empregados contratados pela Petrobras, um número de 40 ou 50 mil funcionários, segundo ele. "Será que essas empresas vão absober todos os empregados contratados?", contesta
Ricardo Ribeiro reforça a necessidade de conhecer as empresas em questão. "Sei que é preciso um grande volume de investimento para manter e tocar o setor e não conheço a saúde financeira das empresas. Não quero julgar, mas é preciso discutir, saber se são capazes de substituir a Petrobras. Não se pode arriscar de trocar o certo pelo duvidoso", finaliza o presidente da Associação de Engenheiros da Petrobras.
Convocada pelo deputado estadual Fernando Mineiro (PT), além das presenças do gerente geral da Petrobras nas unidades do Ceará e do RN, Joelson Mendes, do presidente do Sindpetro, Márcio Dias, e do presidente da Associação de Engenheiros, Ricardo Pinheiro Ribeiro, estiveram na audiência o secretário do Desenvolvimento Econômico do Estado, Segundo de Paula, a deputada federal Fátima Bezerra (PT), o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antonio Moraes, entre outros convidados.
Antes de dar início à audiência, Mineiro explicou a ausência do deputado federal Betinho Rosado (DEM/RN), um dos autores da emenda que possibilitaria a Petrobras de devolver os 100 milhões de barris. O parlamentar comunicou que não foi a assembleia pois sua presença não fazia mais sentido, pois o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já teria comunicado que a devolução dos campos será vetada.












